Depois de trabalhar no desenvolvimento de programas para Bitcoin por cinco anos, Mike Hearn despojou-se de suas moedas e passou a dar respaldo.
Em um ensaio sobre Bitcoin, Hearn enumera diversos motivos que resultaram em seu fracasso, como um clima hostil de confrontação, carência de aperfeiçoamentos necessários para um sistema que atingiu seus limites, influência de uma minoria e ausência de diálogo.
Hearn argumenta que “Bitcoin é uma experiência que pode fracassar”, pois o que foi projetado para ser uma forma de moeda descentralizada, sem nenhuma instituição importante que pudesse falhar, acabou se tornando um sistema controlado por poucas pessoas.
Bitcoins são uma opção eletrônica descentralizada em relação à moeda que teve início em 2009. Não há nenhuma autoridade central, como um banco ou um governo, que é responsável por supervisionar as transações. Aqui está um vídeo informativo curto que Mashable produziu em 2014:
Hearn afirma que aqueles que defendem o aumento do tamanho de transação recebido são reprimidos — impedidos de participar de fóruns e serem alvo de ataques DDOS, conforme descrito pela Forbes.
De acordo com o New York Times, ao longo dos últimos seis meses, os criadores foram alvo de ameaças de morte e ataques que levaram a quedas de serviços em áreas inteiras da rede.
O aumento do limite de Bitcoin XT da Hearn, que tem o objetivo de permitir mais transações por segundo e acelerar o processo de transação, foi abalado por ataques que o impediram de funcionar. No entanto, Hearn indica que ainda existem pessoas trabalhando em alternativas para o Bitcoin Core, o projeto de manutenção do programa que executa a rede Bitcoin e aumenta os limites.
Hearn prossegue, afirmando que a rede está perto de um colapso tecnológico, sem as técnicas para prevenir sua quebra, e “portanto, não há muita razão para acreditar que o Bitcoin poderia ser melhor do que o sistema financeiro existente”.
Os erros técnicos tem prejudicado o rendimento da equipe.
Quando os bitcoins são empregados para efetuar transações, eles são gerenciados por mineradores que têm acesso à cadeia de blocos Bitcoin, que é como se fosse um registro contábil impenetrável e passível de verificação. Todo o processo, envolvendo os mineradores e cadeias de blocos, é descrito em detalhes por Bitcoin aqui.
A habilidade da criptomoeda Bitcoin de contabilizar é um dos seus maiores pontos fracos. Devido a um ataque de negação de serviço no verão de 2015, onde qualquer pessoa enviava pedidos de transações na rede do Bitcoin, os usuários descobriram que o limite máximo de transações é de 700KB, isso equivale a cerca de três transações por segundo, como observado por Hearn.
Essa não é uma taxa de processamento exorbitante para uma moeda que é promovida como “a maneira mais fácil de trocar dinheiro a um custo ridículo”. Na realidade, Hearn declara que às vezes as transações de Bitcoin podem demorar horas para serem concluídas.
Quando a rede está em funcionamento a todo vapor, Hearn nota que ela pode tornar-se extremamente confiável – não é exatamente algo que você quer ouvir quando se trata de seus fundos. Para prevenir que usuários sobrecarreguem o sistema, o Bitcoin automaticamente aumenta suas tarifas, assim como a Uber aumenta seus preços durante os horários de maior procura.
Então, por que não aumentar a capacidade de processamento da rede? Esta é a área onde as pessoas têm dificuldades.
Os erros da sociedade começam com o indivíduo.
De acordo com Hearn e BitcoinFAQ.com, um punhado de pessoas tem controle sobre o Bitcoin. Dois mineiros chineses controlam mais da metade da cadeia de blocos. Ao verificarem transações, eles ganham 25 bitcoins que, no momento, equivalem a cerca de US$ 9.800, o que é muito dinheiro para duas pessoas, e que elas não querem abdicar.
Ademais, um grupo de cinco pessoas trabalhando no Bitcoin Core está numa situação de indefinição. Dois dos cinco desejam aumentar a capacidade de rede, ao passo que os demais três querem manter o limite atual. Hearn menciona que este conflito criou um tipo de guerra civil no seio da comunidade. Algumas pessoas temem que ampliar o limite dificulte mais a descentralização.
Levando a uma conclusão óbvia, mas paradoxal: se a descentralização é o que torna o Bitcoin bom, e o aumento ameaça a descentralização, então o Bitcoin não deve ser permitido a crescer, escreve Hearn. Em essência, o próprio princípio de manter a moeda descentralizada assinala a própria sentença de morte do Bitcoin.
Para onde está o Bitcoin se dirigindo?
Hearn declara que há uma decisão controvertida a respeito de Bitcoin em resposta ao congestionamento de tráfego. Os usuários agora podem pagar para ser priorizados no processamento de suas transações, com a possibilidade de ajustar o montante de pagamento depois de enviar a transação até que ela apareça no livro-razão.
A intenção declarada é permitir que as pessoas ajustem a taxa que elas pagam, mas na verdade isso também possibilita que elas modifiquem o pagamento de forma a favorecer a si mesmas, como apontou Hearn. Isto, por sua vez, torna o uso do Bitcoin ineficiente para realizar compras, pois o comprador deveria aguardar para que a transação aparecesse na blockchain… que, devido à atual congestão, pode levar horas em vez de minutos.